
No panteão dos grandes cineastas, Hayao Miyazaki ocupa um lugar singular. Sua obra transcende a simples animação, elevando-a a uma forma de arte sublime capaz de tocar corações de todas as idades e culturas. Como cofundador do lendário Studio Ghibli, Miyazaki teceu mundos de beleza estonteante, personagens inesquecíveis e narrativas profundas que exploram a relação entre a humanidade e a natureza, a inocência da infância e a complexidade da guerra. Sua filmografia é um tesouro de imaginação e sensibilidade, um legado que continua a inspirar e encantar gerações.
Nascido em Tóquio, em 5 de janeiro de 1941, a infância de Hayao Miyazaki foi marcada pela Segunda Guerra Mundial e pela doença de sua mãe, experiências que, inegavelmente, influenciaram a temática e a sensibilidade presentes em seus filmes. Seu interesse por animação floresceu ainda jovem, inspirado pelas primeiras obras do gênero e pela leitura de mangás. Após se formar em Ciência Política e Economia pela Universidade Gakushuin, Miyazaki iniciou sua carreira na indústria da animação em 1963, trabalhando em diversos estúdios e séries de televisão.
Um ponto de inflexão em sua trajetória foi o encontro com Isao Takahata, com quem colaborou em projetos como “Heidi, Girl of the Alps” e “Lupin the 3rd”. Essa parceria culminou na fundação do Studio Ghibli em 1985, um estúdio que se tornaria sinônimo de animação de alta qualidade, com uma estética visual única e narrativas que desafiavam as convenções do gênero.
A década de 1980 marcou o início da ascensão de Miyazaki como um mestre da animação com filmes como “Nausicaä do Vale do Vento” (1984), uma épica história pós-apocalíptica que já demonstrava sua preocupação com o meio ambiente e a capacidade de resiliência humana. Em seguida, vieram obras que solidificaram seu estilo e sua visão: “O Castelo no Céu” (1986), uma aventura emocionante sobre amizade e tecnologia perdida; “Meu Vizinho Totoro” (1988), um conto mágico sobre a infância e a conexão com a natureza que se tornou um ícone cultural; e “O Serviço de Entregas da Kiki” (1989), uma história encantadora sobre amadurecimento e independência.
A década de 1990 elevou ainda mais o reconhecimento internacional de Miyazaki com filmes como “Porco Rosso” (1992), uma fábula charmosa ambientada na Itália fascista; e “A Princesa Mononoke” (1997), uma obra-prima épica que confronta a destruição ambiental com a busca por equilíbrio entre a humanidade e a natureza, aclamada pela crítica e pelo público em todo o mundo.
O novo milênio trouxe ainda mais consagração para Miyazaki e o Studio Ghibli. “A Viagem de Chihiro” (2001) não apenas conquistou o Urso de Ouro no Festival de Berlim, mas também se tornou o primeiro (e até hoje único) filme de animação não ocidental a ganhar o Oscar de Melhor Filme de Animação. A história da jovem Chihiro em um mundo espiritual vibrante e misterioso cativou audiências globais com sua imaginação fértil e profundidade emocional.
Seguiram-se outras obras-primas como “O Castelo Animado” (2004), uma fantasia visualmente deslumbrante sobre amor e identidade em tempos de guerra; “Ponyo” (2008), uma releitura mágica do conto da Pequena Sereia; e “Vidas ao Vento” (2013), uma biografia ficcionalizada do projetista de aviões Jiro Horikoshi, que marcou o que se acreditava ser a sua aposentadoria (felizmente, ele voltou para mais um filme!).
As características distintivas da obra de Hayao Miyazaki são inúmeras. Seus filmes são visualmente ricos, com paisagens exuberantes, criaturas fantásticas e um senso de maravilha que permeia cada cena. Seus personagens são complexos e multifacetados, frequentemente com motivações ambíguas e um forte senso de independência, especialmente suas protagonistas femininas. A natureza é um tema recorrente, retratada tanto como fonte de beleza e cura quanto como vítima da exploração humana. A guerra e seus efeitos devastadores também são frequentemente explorados, com uma perspectiva que enfatiza a futilidade do conflito e a importância da paz.
Além de seus filmes, o impacto de Miyazaki se estende à influência que teve em inúmeros animadores, cineastas e artistas ao redor do mundo. Seu compromisso com a animação tradicional, sua recusa em seguir tendências comerciais e sua dedicação em contar histórias significativas e universais o estabeleceram como uma lenda viva da sétima arte.
Embora tenha anunciado sua aposentadoria algumas vezes ao longo de sua ilustre carreira, a paixão de Hayao Miyazaki pela animação parece inextinguível. Para a alegria de seus fãs, ele está atualmente trabalhando em um novo filme, “How Do You Live?”, baseado no romance de Genzaburo Yoshino. Essa notícia renova a esperança de que o mestre visionário continue a nos transportar para seus mundos mágicos por muitos anos vindouros.
O legado de Hayao Miyazaki é imensurável. Seus filmes não são apenas entretenimento; são obras de arte que nos convidam a refletir sobre o mundo ao nosso redor, a valorizar a beleza da natureza, a abraçar a imaginação e a acreditar no poder da bondade e da esperança. Ele nos ensinou a voar em castelos no céu, a conversar com espíritos da floresta e a encontrar magia nos lugares mais inesperados. Hayao Miyazaki é, e sempre será, um tesouro da animação mundial, um contador de histórias cuja visão continua a iluminar a imaginação de milhões.