“How to Get Away with Murder” (HTGAWM), ou “Lições Fatais” no Brasil, foi um fenômeno televisivo que cativou audiências globais por seis temporadas, de 2014 a 2020. Criada por Peter Nowalk e produzida por Shonda Rhimes, a série da ABC transcendeu o gênero do drama jurídico, mergulhando em um emaranhado de suspense, segredos e moralidade questionável. Com uma narrativa não linear e reviravoltas chocantes a cada episódio, HTGAWM redefiniu o que esperávamos de um thriller televisivo.
O Coração da Trama: Annalise Keating e Seus Protegidos
No centro da série está Annalise Keating (Viola Davis), uma advogada de defesa criminal carismática, brilhante e incrivelmente complexa, que também leciona Direito Penal na Universidade de Middleton. Annalise é uma força da natureza, capaz de manipular, intimidar e proteger seus clientes (e a si mesma) com uma astúcia sem igual.
Ela seleciona um grupo de seus melhores alunos – os “Keating Five” – para trabalhar em seu escritório de advocacia: Wes Gibbins (Alfred Enoch), Michaela Pratt (Aja Naomi King), Connor Walsh (Jack Falahee), Laurel Castillo (Karla Souza) e Asher Millstone (Matt McGorry). O que começa como uma oportunidade de aprendizado logo se transforma em um pesadelo quando eles se veem envolvidos em um assassinato que mudará suas vidas para sempre.
Uma Estrutura Narrativa Inovadora
O que diferencia HTGAWM de outras séries é sua estrutura narrativa não linear. Cada temporada geralmente começa com um evento futuro chocante (como um assassinato ou um desastre) e, a partir daí, os episódios alternam entre o presente e flashbacks que gradualmente revelam como os personagens chegaram àquela situação. Essa técnica de “quem, o quê, onde, quando e porquê” mantinha o público em constante suspense, tentando juntar as peças do quebra-cabeça.
Além disso, a série habilmente misturava os casos da semana que Annalise e sua equipe defendiam no tribunal com a trama central dos crimes que eles próprios cometiam ou encobriam. Essa dualidade entre a busca por justiça (para os clientes) e a evasão da justiça (para si mesmos) criava uma tensão moral constante.
Temas Profundos e Controvertidos
“How to Get Away with Murder” não se esquivou de explorar temas complexos e muitas vezes controversos, refletindo questões sociais relevantes:
- Moralidade e Ética: A série questiona constantemente os limites da moralidade, mostrando como pessoas “boas” podem ser levadas a cometer atos terríveis em nome da sobrevivência, lealdade ou auto-preservação.
- Justiça e o Sistema Legal: HTGAWM oferece uma visão cínica, porém muitas vezes realista, do sistema de justiça criminal americano, expondo suas falhas, preconceitos e a forma como a verdade pode ser manipulada.
- Raça e Identidade: A série abordou questões raciais complexas, especialmente através da personagem de Annalise, uma mulher negra poderosa em um campo dominado por brancos, enfrentando preconceitos e microagressões.
- Sexualidade e Relacionamentos: Relacionamentos complexos, incluindo identidades LGBTQIA+, foram explorados com profundidade e nuance, desafiando estereótipos.
- Trauma e Saúde Mental: Os personagens sofrem com os traumas de seus atos e os segredos que guardam, levando a discussões sobre saúde mental, culpa e o peso do passado.
As Performances Memoráveis
Um dos pilares do sucesso da série foi o talento de seu elenco, encabeçado por Viola Davis. Sua interpretação de Annalise Keating foi aclamada pela crítica, culminando em um Emmy de Melhor Atriz em Série Dramática em 2015, tornando-a a primeira mulher negra a vencer nessa categoria. Davis trouxe uma profundidade visceral à personagem, explorando sua vulnerabilidade, fúria e inteligência de forma inigualável.
O elenco de apoio, incluindo os “Keating Five” e personagens como Frank Delfino (Charlie Weber) e Bonnie Winterbottom (Liza Weil), também entregou performances convincentes que complementavam a intensidade de Davis.
O Legado e o Impacto
“How to Get Away with Murder” deixou um legado significativo na televisão. Quebrou barreiras na representação de personagens negros e LGBTQIA+ em papéis complexos e centrais. Sua abordagem narrativa influenciou outras produções e elevou o patamar para os thrillers jurídicos.
Embora o final da série tenha dividido opiniões – como é comum em produções com tramas tão intrincadas –, a jornada que HTGAWM proporcionou foi inesquecível. A série nos fez questionar o que faríamos para nos safar de um assassinato, a que ponto iríamos para proteger aqueles que amamos, e como a linha entre o certo e o errado pode se tornar assustadoramente tênue.
Para os fãs de dramas intensos, com personagens multifacetados e mistérios que prendem a atenção do primeiro ao último minuto, “How to Get Away with Murder” continua sendo uma obra indispensável, um testemunho do poder da narrativa e da complexidade da natureza humana.
